sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sôdade




O cheiro do café matinal borrifa minhas lembranças de um perfume de infância O calor manso de um sol inda menino, brincando na janela, despertando pintassilgos e bem-te-vis, aflorando canções de acordar pardais e juritis. O gemido do carro de b...oi e o relinchar do meu baio harmonizando o canto do curió, enquanto, ao longe, um riacho cantador, canta sereno, seu hino e minha mãe cutuca: "corda, corda, acorda menino" O copo de vidro aquece minha mão esquerda enquanto molho o pão no café preto: "bão pra tosse" café, pão e manteiga... "eita saudade de Fulô!" Da janela vejo a grama verde inda vestida do véu da noite, o céu chorou e serenou poesia: o orvalho beijou o meu quintal e dessas lágrimas, nasceu uma moça chamada saudade. O feijão descansa no fogão de lenha. Lembrança tem porta aberta, num carece de senha. Na parede, pendurada, viola paciente espera o cantadô ausente. Inda posso ouvir aqueles acordes. mas hoje a vida tem uma toada diferente... Sôdade, sinhô! sôdade...

                                                IVAN VILELA

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